domingo, 2 de março de 2008

Lagoa do Príncipe

Não discuta o bom gosto. Opte por usufruí-lo.
(Palestrante Otchuko)

A trinta “quilometrinhos” de São Paulo, está um interessante lugar para quem deseja fazer turismo cultural. Lá, assenta-se confortavelmente, a infra-estrutura exigida pelos paulistanos e aprovada com admiração pelo brasileiro.
A solução encontrada para levar pra casa um pouco dessa cidade, é respondida pela minha “mesa souvenir”. No Rio de Janeiro, onde moro, as refeições são diariamente servidas nesse objeto de arte, fabricado pelas mãos talentosas dos artistas filhos dessa terra.
Três sapos resolveram trocar o brejo onde se molhavam, por outro com possibilidade de ter menos intimidade com a miséria e a fome. Sabedores da existência de uma lagoa riquíssima em insetos sadios e nutritivos, dirigiram-se ao abençoado local.
No meio do caminho, o batráquio da direita dizia ao da canhota:
-- Cara. Dizem que o esforço necessário para pular até a Lagoa do Príncipe é imenso.
-- É verdade. Muita gente (sapo) não consegue. – corroborava o da esquerda, glorificando a derrota.
Expressando seus muitos queixumes, os sapos das extremidades, desanimaram. Prostrados diante do problema, enfraqueceram-se tanto psicológica quanto fisicamente, não podendo por conta disso, chegar onde desejavam.
O do meio, era determinado desde girino. Chegando ao local, com um único salto acessou ao universo dos insetos. Sua primeira refeição veio voando para sua avantajada boca. Era o serviço tipo Mac Mosca “delivery express“. A regra do local é: pensar na comida, abrir a boca e cair de língua.
No MSN, começou a “chatear” (falar via teclado) com os dois sapos perdedores. Desejavam saber como o amigo conseguira alcançar a Lagoa do Príncipe. A deficiência auditiva do sapo o impediu de ouvir os obstáculos que os outros comentavam e sem ter assumido o negativismo, atingiu sua deseja meta.
A lenda de que do nada surge uma princesa para beijar sapo, transformando-o em príncipe, nos dias atuais, não rola. É mais um escárnio burguês. Talvez outra forma açodada de deboche ou mesmo ironia dos abastados, que zombam de ridículos e miseráveis submissos, arrancando-lhes falsos aplausos e risos pelas bravatas contadas. A anterior história de incentivo, deu lugar a uma cruel maldade capitalista.
Já sei Amigo Leitor, que você discorda dessa idéia e por isso mesmo, permita-me apresentar outro enfoque. O que você acha de o sapo agregar valor ao seu perfil? produzirá outro índice para o livro?
-- Kasu, coma logo teu ovo com farinha e vá procurar emprego porque a situação não ta pra peixe. –- ralhou sua mãe, Rãnia.
Enquanto baixava vistas à merreca que seu pai lhe dera para pegar a condução de uma comunidade da periferia de São Paulo, para o Centro, em busca de trabalho, Kasu sentiu-se como um batráquio residente em um riacho condenado pela Feema, onde até os insetos estavam encostados pelo INSS - Invertebrados Naturalmente Sem Saúde. Comida, neca de catibiriba. Precisava largar essa vida de sapo sem futuro. Para não enlouquecer, animou-se escrevendo um poema de brejo:
Lagoa do Príncipe:
É melhor começar
Já que me pedem
Senão me despedem
Eu vou coaxar
O que faço?
Irei pra lagoa
Será uma boa
Largar o riacho
Não sou um ricaço
Mas to rindo à toa
Pulei na canoa
De novo coaxo
Quisera um mosquito
Que sapo danado
Vou ser transformado
Ficar mais bonito
A maior surpresa
Soube que era príncipe
Da história sou índice
Beijei a princesa
Negócios à parte
Sai da pobreza
Fabricando mesa
Em Embu das Artes
Esposado a Síntique
Em Embu das Artes
Maior dos destaques
Lagoa do Príncipe
Kasu pegou o galpão onde seu pai fabricava totó e sinuca, convencendo-o a colocar uma imensa faixa contendo essa inscrição:
--- Kasu - Estofador ---
Quando batia o último prego, sua mãe Rãnia, ralhou:
-- Kasu! Você não vai pegar o ônibus?
De dentro de um simples carrinho 4 x 4, uma elegante jovem havia saltado e olhando para o magricela, perguntou quem era o estofador.
-- Sou eu, Senhora. - respondeu Kasu.
Com medo de orçar o serviço que a gentil moça desejava, cobrou três vezes mais caro. Sua adrenalina ficou mais alta do que a estrada de santos, quando não estranhando o valor, a madame adiantou os 50 porcento de sinal.
Não satisfeito de ter se tornado o melhor e mais conhecido estofador do bairro, Kasu começou a fabricar mesas e cadeiras artesanais, ramo com o qual se identificara definitivamente.
Foi apresentado por uns amigos (agora estava cheio deles) a uma jovem com excesso de beleza. Ela o olhava de forma especial. Achava-o espirituoso, cheio de jocosidade. Chegou a pensar no futuro imaginando: Sou tão feio quanto um sapo. Ah! se ela fosse uma rã!
Kasu se sentia tão bem por trabalhar em Embu das Artes, que decidiu residir lá transformando sua casa em um “show room” dos artísticos móveis que seu dom lhe induzira a produzir.
Apesar de estar agora com algum dinheiro, Kasu, era amante das coisas simples. Prova disso, é que chamou sua mulher para um passeio à tarde em uma rústica lagoinha que tem em Embu das Artes. Entre uma nuvem e outra, ouvia o vocalize dos sapos, quando, para enlouquecê-lo de paixão, a melódica voz da esposa, o extasiou:
-- Kasu. Esses 15 anos conversando com você, me transformaram em uma pessoa muito agitada. Estou com o amor à flor da pele. Cada vez mais esse sentimento se apossa de mim. Pensava que essa história de príncipe não existisse e você aparece singrando o meu coração. Como você é lindo!
E, com a sapiência que humanizaria o belo anfíbio, ofereceu-lhe os lábios para o beijo. Os olhos (fechados durante o ósculo) se abriram e percebeu que estava sendo docemente flagrada pelas primeiras estrelas do anoitecer.
A lua se despedia do horário de verão. Embu das Artes, estava orgulhosa do seu lacustre brilho prateado, que encantava os olhos cheios de amor do casal. Lágrimas de felicidade, eternizando o instante, eram sorvidas, pela Lagoa do Príncipe.


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Escrito por:
Gilberto Landim

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